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O tal blog da Bethânia

Me ajudem: sou eu quem está por fora das discussões do blog da Bethânia ou senti um tom de justificativa meio nova/torta na matéria do Segundo Caderno de hoje?


Não vi o problema todo ser aprovar um projeto feito para a internet (e dos internautas serem entusiastas da produção colaborativa a web etc). É claro que videos custam caro, tem uma equipe para ser paga, tem um preço sim. Eu participei de um projeto para internet e eu sei o quanto ele precisava de grana. É claro! Qualquer um precisa, sendo pro cinema ou internet.


O negócio (pra mim) é que Bethânia, Andrucha e toda aquela equipe juntos têm grandes chances de conseguir patrocínio direto das empresas, sem dinheiro público. E é claro que, com esses nomes de peso, as empresas não vão se importar em "dar" mais de 1 milhão para o blog.


Na verdade, acho que a questão mora em duas discussões. Uma em torno da Lei Rouanet. Todos devem ter oportunidades iguais, mas a minha força é igual a da Bethânia? Os diversos aspectos dessa diferença devem ser levados em conta quando se trata de dinheiro público. Ser aprovado na Rouanet é fácil, mas ela permite uma "competição" um tanto injusta na hora de captar. A reforma na Lei Rouanet (aliás, cadê a tal, hein?) sugeria alternativas para essas questões, com o Ficart e uma distinção entre projetos com potencial comercial ou não e formas de se conseguir recursos. Não sei ainda se a proposta era a mais adequada, mas essa é uma discussão a ser levantada.


Outra gira em torno do papel das empresas. Bethânia atrai mídia. Carol, não. Objetivos da empresa: lucro, ganho de imagem. Logo, patrocício --> Bethânia, em primeiro lugar. Isso é que dá quando o mercado tem o poder de decidir sobre o que é produzido ou não. Muitos bons e importantes projetos que precisam, dependem do dinheiro do incentivo não conseguem. E assim nós vamos.


Eventos como esses servem para não só discutirmos o micro, mas percebermos o macro. Se a Bethânia e cia querem 1 milhão pra fazer um blog, se estão ganhando bem, isso é com eles. Também queria essa igualdade toda pra ganhar bem, rs. O problema não está nela (que aliás, é uma artista maravilhosa). Está no sistema que permite que a tal igualdade, de fato, não exista.



Ps: Só pra constar. Eu querer o salário da Bethânia é ironia. A aprovação (e novamente, com dinheiro público) de um cachê tal alto é outro ponto negativo dessa história. Igualdades... igualdades....


Comentários

Fransa disse…
Achei o comentário correto!
Mas não é só problema da lei Rouanet.
A união da falta de escrúpulos da cantora e sua equipe (turma?) com a falta de responsabilidade e competência do Ministério da Cultura gerou esta gritaria. E com nosso dinheiro!
Saber que outros nomes importantes da MPB também já utilizaram tais "recursos" piora ainda mais a situação.
São pessoas que não precisam de tais incentivos, só se aproveitam.
Caberia ao MinC, se tivesse bom senso, destinar as autorizações para quem realmente precisa, desde que seja apresentado um bom projeto com orçamento correto(e devem existir muitos nessas condições).
Este ministério, como outros, parece não entender que uma de suas funções básicas é REPRESENTAR a população brasileira.
Por fim, este blog da poesia é um projeto caro, elitista, prepotente e mal concebido.
Quem vai aguentar ver/ouvir durante 1 ano versos/poemas declamados pela mesma pessoa?
Deve ser pior que novela!
. carolina . disse…
Essa discussão é super pertinente, mas também delicada. Muitos encaram que, caso haja algum tipo de restrição ou controle desses projetos com relação ao proponente ou a parte conceitual, pode ocorrer um dirigismo cultural por parte do Estado.

Eu particularmente gosto da Bethânia e não discuto sua qualidade. E até acho que iria sair um trabalho bonito. Mas esse trabalho tem a necessidade de sair com dinheiro público. Mas já que é permitido e é um facilitador, por que não?

A lei Rouanet precisa ser reformulada e, como disse, nessa reforma que está sendo discutida, há proposta para tratar de projetos de grande potencial comercial. E as empresas, apesar da mentalidade delas ser "mais lucro com menos gastos", também deveriam ter a consciência de sua responsabilidade social (sim, acredito que elas tenham. Afinal, uma empresa é feita por pessoas, por cidadãos, não é uma corporação com vida própria. Logo, ela também deve ter responsabilidades) e investir os recursos públicos em projetos que realmente precisem. Esse outros servem como estratégia mega forte de marketing, podem receber patrocínio direto.

Mas a discussão é complicada. Muito complicada.

Muito obrigada pelo comentário!